Sempre Alerta!

16-07-2023

Um dia, algures pelos meus onze anos de idade, disseram-me que não precisava de andar fardada para ser escuteira. E disseram-me num domingo em que tínhamos que estar fardados para ir à missa e eu esqueci-me. Chorei com vergonha do meu falho. E foi quando me tocaram do lado esquerdo do peito e me disseram que ser escuteiro estava "ali" e não na representatividade da roupa que usamos.
Ontem era o dia que eu sempre sonhei viver, mas descalcei as botas antes de chegar ao microfone. Ontem era o dia em que devia carregar a minha mochila de campo cheia de palavras de agradecimento a todos aqueles que fizeram de mim o que sou hoje, mas tenho-a guardada numa das mil caixas das mudanças.
Ontem era a minha vez de chorar o meu percurso junto daqueles que durante doze anos fizeram os mesmos trilhos que eu e viveram com a mesma intensidade cada dificuldade. Ontem era o dia em que prometia a mim mesma perante todos aqueles que me viram crescer e me ensinaram a ser melhor a cada dia que passasse, que ia estar sempre alerta na vida. Ontem era o dia em que, de lenço vermelho debruado ao peito, ia encerrar a melhor etapa da minha vida. Mas ontem fiquei em casa.
Arrumei a minha camisa e os meus calções há quase um ano e desisti daquilo que mais me ensinou e me fez sorrir.
Quando tomei a minha decisão, a primeira coisa que o meu pai me disse foi: "quem te viu e quem te vê". Levei a mal o comentário. Mas também o interpretei mal.
Nunca, em momento algum, deixei em aberto a possibilidade de não ser escuteira ativa para o resto da minha existência, e quando o meu pai me dizia no auge da sua sabedoria, que a vida era imprevisível, eu rapidamente respondia que de tudo faria para que essa imprevisibilidade nunca abalasse o meu espírito. Mas abalou. Abalou, apesar de eu ter lutado até ao fim contra ele. Ou contra a falta dele.

Ontem ia ser possivelmente dos dias mais tristes do ano, mas fiquei em casa e estou possivelmente, muito pior. 

Inês Pinto- Portefólio
É a vida Maria Inês- Frase que digo a mim mesma de todas as vezes que quero relativizar
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